Goiânia — O Conselho da Justiça Federal (CJF) decidiu, por unanimidade, aposentar compulsoriamente o desembargador Guilherme Diefenthaeler, do Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF-2), acusado de assédio contra servidoras. A decisão, tomada em 20 de outubro de 2025, confirmou o afastamento cautelar determinado meses antes e foi classificada como uma das punições mais severas dentro da magistratura — ainda que mantenha o direito aos vencimentos proporcionais, conforme previsto em lei.
A medida reacendeu o debate sobre a cultura de impunidade e privilégio no sistema judiciário brasileiro. O caso evidencia como a falta de transparência e os mecanismos internos de proteção hierárquica ainda dificultam que vítimas denunciem abusos cometidos por autoridades.
O caso
As denúncias começaram no início de 2025, quando servidoras relataram à Corregedoria do TRF-2 episódios de intimidação, constrangimento e assédio dentro do gabinete do magistrado. Após a coleta de depoimentos de mais de quinze pessoas, o CJF instaurou um Processo Administrativo Disciplinar (PAD) e decidiu pela punição máxima: aposentadoria compulsória.
O julgamento unânime foi considerado exemplar, mas também levantou críticas: o desembargador continuará recebendo remuneração proporcional ao tempo de serviço — benefício previsto mesmo para magistrados punidos disciplinarmente. Para muitas entidades de classe, o resultado representa "punição sem dor", por manter privilégios incompatíveis com a gravidade das condutas apuradas.
O que isso revela
- Barreiras institucionais: casos de abuso de poder e assédio ainda enfrentam dificuldades para vir à tona;
- Sanção administrativa x responsabilização penal: sem consequência criminal, a punição parece branda;
- Privilégio estrutural: mesmo em decisões firmes, o sistema frequentemente protege quem deveria responder como qualquer cidadão.
Quando o silêncio é a regra, a coragem vira resistência
Muitas servidoras e advogadas que sofrem com assédio e retaliação hierárquica têm medo de denunciar — e acabam adoecendo em silêncio. Este caso mostra que denunciar é possível, mas ainda perigoso, e que o apoio institucional é o que separa o medo da justiça.
Nesse contexto, a Liga Pela Justiça atua como rede independente de apoio jurídico e proteção institucional para vítimas de abuso de autoridade, perseguição e assédio no serviço público e no meio jurídico.
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Reflexão final
A aposentadoria compulsória do desembargador acusado de assédio é uma vitória simbólica, mas também um lembrete de que a Justiça ainda protege seus próprios membros mais do que protege suas vítimas. Enquanto o privilégio continuar servindo de escudo para a impunidade, a sociedade precisará exigir transparência, coragem e mudança — dentro e fora dos tribunais.
Fontes oficiais: Conselho da Justiça Federal (CJF), TRF-2, Fenajufe, Sisejufe e HJUR.